Os movimentos messiânicos existem no Brasil desde o período colonial, e no Nordeste do país, as manifestações culturais populares de caráter religioso são marcantes.
Os messias ocupam sempre uma posição de superioridade em relação aos fiéis, uma vez que o messias é o líder no ápice e os fiéis na base, encontrando-se um grupo intermediário a ambos, que são os discípulos mais chegados (Queiroz: 1976).
Na última década do século XIX, surgiu o movimento de Canudos, organizado em torno de Antônio Vicente Maciel, ou Antônio Conselheiro. Conselheiro fora acusado de heresia pela Igreja Católica e de monarquista pelos líderes republicanos. Conselheiro foi o principal protagonista da revolta de Canudos, no sertão da Bahia.
Pregador, peregrino, andava por regiões do Nordeste assoladas pela seca, cuidando de cemitérios, de capelas, e era seguido por milhares de pessoas que viam nele um “messias”, o qual apontava um novo mundo religioso no lugar da miséria. Conselheiro fundou, no Arraial de Canudos, o Império do Belo Monte, formando uma comunidade de miseráveis. Suas leis eram aceitas por todos e o pão era repartido igualmente. A posse da terra era comum, a propriedade restrita aos bens pessoais. Aguardente e prostituição eram proibidas. A comunidade de Canudos não aceitava o casamento civil, nem a cobrança de impostos instituídos pela República.
Em 1895, a comunidade de Canudos recebe sentença de morte e, em 1896, o governo enviou expedições militares para destruir aquela comunidade. Após o ataque de quatro expedições militares que resultou na morte de Conselheiro, sobreveio uma trégua. Em 1897 Canudos foi destruída, e 30 mil pessoas haviam sido dizimadas pelo exército (Milton:1902).
Na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, em torno da pessoa do Padre Cícero Romão Batista, surge um outro messias. Homem estudado, padre Cícero foi exercer seu sacerdócio em Juazeiro do Norte. Lá, ele encontrou o povo sacrificado pela longa seca de 1870 a 1880.
Em 1872, quando o Padre Cícero chegou em Juazeiro, o lugar era um pequeno arraial, mas, ao falecer em 20 de julho 1934, deixara a cidade desenvolvida, a mesma tornou-se a maior cidade do interior do Estado do Ceará. O padre Cícero incentivou o aprendizado de várias profissões, e aconselhava a quem tinha terra a plantar e ensinava como plantar. Considerado o pai dos pobres, o Padre Cícero não aceitava pagamento pelas cerimônias religiosas, sinal de que abandonara os bens materiais, divergindo em geral dos seus colegas religiosos, que recebiam pagamento pelas missas celebradas. Padre Cícero preferiu viver das doações dos fiéis, andava trajado como mendigo, o que levava os seus seguidores e admiradores a admitirem que estavam diante de um padre extraordinário.
Padre Cícero, chamado carinhosamente por muitos de “Padim-Ciço”, era conselheiro e pai protetor, daí as relações de obediência e de acatamento por parte dos romeiros. Durante o flagelo das secas, como por exemplo, em 1877 e 1879, o Padre Cícero instalou retirantes em suas terras, fez distribuição de víveres e iniciou atividades de obras públicas para que os retirantes pudessem ganhar a vida. Para realizar e manter as atividades de proteção aos pobres, o padre Cícero solicitava apoio aos governos, o que levou as autoridades a considerá-lo um porta-voz dos flagelados. De homem bom, passou a ser tido como milagroso, ao se espalhar a notícia que na comunhão dada à beata Maria Araújo a hóstia havia se transformado em sangue, isto é, no sangue de Jesus. Com a fama dos milagres, a influência do Padre Cícero aumenta, e pessoas de todos os níveis sociais, trazidas pela fé ou por curiosidade, se dirigiram a Juazeiro em busca da proteção do famoso “Padim-Cíço”. As doações aumentaram, e a abundância passou a existir na casa do milagroso Padre.